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Sobre(tudo), ser
Carta ao João Loio, sobre o tema musical da exposição
por André Gigante

Vou pedir ao Loio para me fazer uma música que lhe lembre a Fuzeta, a ilha. Uma noite cá fora, as idas a terra, a conquilha e histórias do mar. O depósito de água, a cama no “sótão”, hambúrgueres de arroz, todos nus, sem idade, abertos ao mundo, ao encontro do ser. O gesto é tudo, afectos, partilha, o banho dos Mata, mangueira às quatro, e o Pisco sentado, assim, a viver. Caetano, medronho, a vida num sonho. Vai com brandimel? À noite de barco, boleia de margem e sobre a aragem, voltar a nascer, de barco a remos, até de borracha, a pé, maré baixa, com o mundo por ver. Papagaios ao vento, num saco de cama, fogueiras despertas ao amanhecer, a natureza desnuda, porque era a nossa, a reaparecer. É isso, uma melodia dessas, daquelas que ele tocava em cima e em baixo, cheio de dedos, dedadas leves, como se consegues, em graves, agudos, e silêncios mudos, que contam histórias.

Era isso, a ir e voltar, como as ondas, ou o Salgado a voar por cima dos cactos, vegetação rasteira que não me lembra o nome, vegetação do povo, mas que pica tipo cacto, em conversa acesa, vinho sobre a mesa, grande confusão, tem fósforo na água, brilha com razão. 

E a Cassiopeia, sobre a lua, cheia, em pontos de luz, cintila e seduz, e enche o céu, para te  vir receber.

Que dizes, João?