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Ciclo de exposições das Escolas Soares dos Reis e António Arroio.
por André Gigante

Esta era uma escola diferente, pelo menos em relação às que havia conhecido, era uma escola feita com os alunos, como todas as escolas deveriam ser, uma escola onde o ensino é curiosidade, antes de obrigação, onde o conhecimento permanece em aberto, maleável, disponível, como todo o conhecimento deveria permanecer. No encalço de novos paradigmas, novas interpretações. As matérias deixavam então de ser algo que memorizávamos, para logo se transformarem em algo que procurávamos compreender, manipular, acrescentar. Apercebi-me que até então não sabia estudar. Estudar não é tomar as coisas como certas, mas precisamente o contrário.
Havia provas ao ar livre, enunciados de antemão, testes de uma única afirmação: “A arte é uma coisa mental”, e nada mais referia, assim escrito no quadro, enquanto o professor saía… Sobre aparente vazio, na riqueza do pensamento do mestre renascentista, o desafio, em patamares inesperados, reconstruía perspectivas mirabolantes, as mais ousadas redescobriam velhos cenários em enigmas vários, mais interessantes, ambiciosos. Com o desejo de existir, existir, porque isso é ser, e ser é encontrar, e depois, reencontrar, evoluir.
Existe sempre terreno para lavrar na dimensão interior, na clareza da dúvida. Se uma escola pode dar algo de valioso aos seus alunos é a capacidade de questionar, de se cultivarem enquanto seres individuais, explorando a sua singularidade como a dimensão mais preciosa, berço de ideias únicas, de diferentes pontos de vista, da opinião.

Estamos a falar de formar o carácter. E nisso a Soares não fazia cerimónia.

Havia uma escola que era um café e um café que era uma escola. Assim era a Soares para quem a tratava por tu. Longe de um saber assertivo fundado essencialmente sobre o que se sabe, habitava um novo saber, o saber da dúvida, da filosofia, da experimentação. Tudo é possível quando se olha o impossível como uma possibilidade, se é que isto faz sentido, ou se de facto precisa de o fazer, isso seria uma conversa para se ter no Vicobé, o tal café debruçado em fregueses vários, uma espécie de entidade neutra onde nos sentíamos entregues ao devaneio, à poesia, de rédea solta, palavras tuas.

Não se procuravam certezas mas acertadas teorias e levava-se para casa a dúvida e o conhecimento, extremos que se tocam e se complementam por definição.

Na escola era grande rebuliço, saberes cruzados de artes várias, agitação, entre tambores e acrobacias. Um personagem em cena, fotografei-o numa pintura retratado, em reflexos sobre barro vidrado, esculpindo, musicando, tudo era possível, experimentando. É precisamente neste confronto disciplinar que a escola se revelava ímpar, numa mistura de dimensões artísticas, de expressões em diálogo, ao encontro de um lugar onde a arte podia existir sem preconceito.

Havia uma escola que florescia quando as aulas terminavam, dividida em clubes afectos às várias artes e ofícios, abrindo-se aos curiosos em ampla disponibilidade. Foi aí que dei os primeiros passos num laboratório fotográfico.