Horizontal

Horizontal (horizonte) por ANDRÉ GIGANTE
por Helena Mendes Pereira link

Onde mora o silêncio? O que é um intervalo? Existe silêncio no horizonte? O horizonte é um intervalo?

A seleção de obras que André Gigante apresenta, em HORIZONTAL, a partir de 7 de maio no Mira, no Porto, sugeriu-me, no imediato, um conjunto de perguntas sobre os conceitos de espaço-tempo neste contexto pós-moderno em que vivemos (ou, apenas, sobrevivemos). 

A fotografia é um instante, captado pelo olhar, genial e atento, do artista. É o silêncio daquele intervalo em que tempo e espaço entram em sinopse, em resumo. 

Ao longo dos anos, a produção artística de André Gigante tem procurado esse instante mágico, na relação das arquiteturas e das urbanidades com as paragens reflexivas do ser humano em busca de si mesmo. Desta vez, a objetiva arriscou nos detalhes, extraindo da matéria a paragem e o movimento que a abstração do pensamento nos permitem ver. Continuamos a ser desafiados a refletir a partir das imagens, não conseguimos apenas contemplar. Há um incómodo naquele intervalo e naquele silêncio. 

Perguntar-nos-emos sobre a mimesis e sobre a poesis, ainda que Aristóteles estivesse longe de imaginar o poder da fotografia na expansão e, simultaneamente, na síntese das ideias.

Serão as ondas do mar? Será a velocidade do comboio que passa? Serão frames de movimento acelerado? Serão ritmos das águas do mar alto quente? 

As perguntas devoram-nos e preenchem-nos de ruído. Mas também calma e paz. 

Porquê que o artista nos indagou para a horizontal num conjunto de suportes de tendência vertical? É a sugestão de horizonte que nos dá o horizontal? E se não for horizonte, mas fim, mas muro? Intervalo entre terra e céu? Silêncio almejado do lugar onde o sol repousa no mar? 

A obra de André Gigante tem uma plasticidade provocante, um rigor perturbador, ainda que na imanência de um exercício de Liberdade sobre esta pergunta maior, sobre o porquê de o tempo não parar quando precisamos que pare, não acelerar quando queremos que algo apenas acabe? Não conseguimos moldar o tempo, mas naquele instante em que a fotografia acontece, o artista é uma espécie de Deus que nos liberta da velocidade dos dias, provando-nos que há um espaço em que a mente pode parar, descansar.

Silêncio. Intervalo. Horizonte. Pensamento. Mar. 

Talvez André Gigante tenha tido apenas a ousadia de nos querer confundir. Ou então clarificar no nosso caos interior. Ou nada. Só Arte. Talvez.