Luzia
2020/2022
Exposição Exhibition
Quando souber o caminho escrevo-o em surdina, tangente a olhares tendentes, não vão ouvidos feitos desfasar a beleza em suspenso, equilíbrio delicado entre a mancha indecifrável e as portas entreabertas de Luzia. O caminho é uma espiral invertida, seguimos com a certeza de um fim mas com a capacidade de transformar o durante e acabar noutro lugar. Ao longe, luzia, despia os contornos nítidos das suas silhuetas e fundia formas e tons numa mistura volátil que balançava com os olhares de um lado para o outro, quais passos que se aproximam tentando nitidificar, estratificar, generalizando nuances surpresas, em figuras banais. Luzia não era nítida nem ao longe nem ao perto, apenas entretanto, onde se entregava antes de ter tido forma e existia sem convergir para um fim, tal a sua chama acesa na ininterrupta irrepetibilidade do arder. Era cidade desdobrada em montanha de um dia posto noite em horizontal levante, de quem vê o mar transformar-se em terra que passe a ser casa que casa cidades e prédios em fila e tece fileiras de dados na gente que quer ver mais lados de lado e de frente. Assim se indetermina Luzia, cidade de noite, montanha de dia, ausente de espaço ou borrão sem fundo, tão sóbrio e tão plano como o fim da idade.
André Gigante
2019