Vivo atrás da travessa
que divide por três
Metade do que fiz
Metade do que fez

Ensinou-me outra vez

Vivo numa ruela
que é diferente daquela
Numa rua estreita
que não soube acabar

Ensinou-me a parar

Sou da tela vazia
depois da matiné

Buraco no sapato
que trago no pé

Vivo atrás da fachada
lá no fim da cidade
Onde vivem pessoas
de quem sinto saudade

Ensinou-me a idade

Vivo numa calçada
com as pedras para o ar
conto até à terceira
e devo tropeçar

Sou da tela vazia
depois da matiné

Buraco no sapato
que trago no pé

Ao dobrar de uma esquina
que esconde segredos
quarta parte de enganos
meias culpas enredos

Ensinam-me a mentir

Entre as quatro paredes
do meu último andar
Uma porta estreita
que não soube fechar

Ensinou-me a olhar

Sou da tela vazia
depois da matiné

Buraco no sapato
que trago no pé